A 2 anos da tentativa de golpe… Num contexto de um Brasil marcado pela desigualdade, o fortalecimento de uma juventude periférica alinhada à direita é um reflexo direto de um projeto hegemônico que se renova nas bordas da sociedade. Como isso tem se dado?
2) É um fenômeno que se assenta, sobretudo, em 04 pilares fundamentais: guerra ideológica, captura cultural pelo discurso meritocrático, precarização da consciência de classe e clerofascismo.
3) A direita, sobretudo em suas versões ultraconservadoras, entende que a periferia não é só um território que fornece “mão de obra barata”, mas um espaço disputado simbolicamente.
4) A narrativa do “empreendedorismo de sobrevivência”, do “cidadão de bem” e da criminalização das lutas populares cria o mito de uma ascensão individual possível, enquanto, na prática, reforça uma subserviência estrutural.
5) O discurso da direita na periferia veste a máscara da ideia de que “qualquer um pode vencer com esforço, amplificada nas redes sociais e nos espaços religiosos. EÉ a falácia do discurso Meritocrático e “do Empoderamento Individual”.
6) Com isso, jovens que vivem na precariedade passam a se ver não como sujeitos coletivos, mas como “empresários de si mesmos”, fortalecendo a “atomização”, o isolamento social e enfraquecendo movimentos de base.
7) A juventude periférica é bombardeada por conteúdos que misturam moralismo, fake news e medo. E isso é um arsenal ideológico que acaba legitimando políticas que mantêm a precariedade como regra.
8) A ausência de políticas públicas no geral e educacionais críticas, de espaços facilitados de construção comunitária faz com que parte dessa juventude seja absorvida pelo discurso punitivista e anti-esquerda, regado por alianças com milícias e também setores da segurança pública.
9) Ou seja, a juventude periférica de direita é o resultado de um projeto de poder que se infiltra onde o Estado e as lutas progressistas não chegam com a devida força ou sem força nenhuma.
10) Não há como entender o fortalecimento da juventude periférica de direita sem denunciar a participação de setores religiosos na propagação de um discurso clerofascista: uma aliança nefasta entre o autoritarismo político e o fundamentalismo religioso.
11) Este movimento, que ocupa os territórios populares sob o disfarce da fé e da caridade, é um dos principais braços da ofensiva ideológica da direita.
12) Algumas igrejas, ou melhor, setores conservadores e neopentecostais, atuam como um “Estado paralelo”, oferecendo serviços básicos onde o Estado é ausente, enquanto reforça uma narrativa moralizante e anticomunista.
13) Prometem salvação individual em troca de obediência ao projeto neoliberal e criminalizam qualquer forma de organização coletiva como “coisa de baderneiro” ou “trabalho do diabo”.
14) Por trás dos sermões sobre “prosperidade”, esconde-se um pacto silencioso com a lógica da exploração capitalista: quem é pobre, dizem, é porque “não teve fé o suficiente”. Assim, “despolitizam” a pobreza, transformando numa suposta falha moral.
15) A juventude periférica é alimentada com um discurso apocalíptico em que o “inimigo” está sempre lá fora: os movimentos sociais são vistos como “agentes do caos”, as pautas de DH como uma “ameaça à família” e os intelectuais críticos como “propagadores do marxismo cultural”. Isso tudo alimentado por líderes religiosos que ocupam o púlpito como verdadeiros generais de guerra cultural.
16) A luta contra o clerofascismo não é uma negação da espiritualidade, mas a reinvenção dela como um espaço de emancipação, não de opressão. (Opressão, inclusive, racista de perseguição à cultura afro, por ex.)
17) E, aliás, é bom lembrar que o clerofascismo é um dos pilares mais poderosos do projeto de direita nas periferias, pois manipula o imaginário popular e, sobretudo, controla corpos e mentes com a promessa de redenção e medo da condenação.
Marcela Magalhães