sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
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terça-feira, 14 de janeiro de 2025
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
sábado, 11 de janeiro de 2025
Composição – Tema: A família (6.º Ano) – aluna: Diana (ficção de Carlos Esperança)
A minha família é composta pelo meu pai, a minha mãe e eu. Quem manda é o meu pai que tem um táxi que não é dele. A minha mãe trabalha em casas de senhoras ricas.
O meu pai é quem fala lá em casa, e manda calar a minha mãe; diz que, quando há um galo, não cantam as galinhas. Ele veio de Coimbra aqui para a Musgueira e trata os clientes e pessoas importantes de quem gosta por doutores. Os clientes gostam – diz o meu pai –, e fala dos doutores, mas às mulheres chama-lhes gajas. Aos homens de que não gosta chama-lhes nomes que a minha mãe diz que não devo dizer nas aulas.
O meu pai diz todos os dias que os políticos são mentirosos e vivem à custa dele, que a política é uma coisa suja, mas quando a minha mãe lhe disse que ele só falava de política, deu-lhe logo uma bofetada e nunca mais foi contrariado.
O meu pai só gosta do Dr. André Ventura; gosta tanto que até diz que o André, só André, sem doutor, vai acabar com os políticos, os ciganos e as eleições. Há um estrangeiro de quem gosta muito, o Dr. Trump, e odeia outro que trata por um nome que não digo, Putin, e chama putinistas aos que não gostam do Dr. Zelenski.
Eu não percebo nada de política, mas oiço o meu pai. Ele agora também passou a gostar do Dr. Elon Musk, creio que é assim que se escreve, eu já o vi na televisão. Deixou de gostar do Dr. Marcelo e passou a chamá-lo só por “o Marcelo, aquele filho de Putin”, mas ao Putin chama-o também filho disso ou coisa parecida.
Não percebo o meu pai; ele diz que as mulheres não podem compreender, quanto mais as garotas. Diz à minha mãe para votar no Chega, e que os partidos deviam ser proibidos. Ele gosta muito do Dr. Mário Machado porque quer acabar com os pretos e os ciganos, e, por bem fazer, às vezes prendem-no. Os juízes ainda são piores do que os políticos.
O meu pai gosta muito do Dr. Trump porque quer expulsar os pretos; o meu pai também não gosta de pretos, e anda desorientado porque o Dr. Trump parece gostar do Putin. Se o Dr. Trump deixar de gostar do Dr. Zelenski o meu pai passa a gostar só do primeiro.
O meu pai anda muito contente porque o Dr. Trump vai ficar com o Canadá e o Canal do Panamá e, se não lhe venderem a Gronelândia, conquista-a. Não é como nós, que não defendemos o nosso Ultramar, infelizmente perdido, e o entregámos aos pretos e aos russos.
O meu pai não gosta da Rússia, diz que a Irmã Lúcia, que agora é santa, disse que todo o mal vem da Rússia e que foi a Senhora de Fátima que lho disse. Portanto, é verdade.
Agora o meu pai anda perdido com a Ucrânia, o Dr. Trump, o Dr. Zelensky, o Dr. Elon Musk e o Putin. Só fala do futuro presidente. Vai votar no Dr. Almirante e ele e o André vão tornar Portugal grande outra vez e acabar com políticos, ciganos, pretos e traidores.
Ele também gosta muito do Dr. Milhazes, do Dr. Rogeiro e do Dr. Botelho Moniz que odeiam o Putin, mas gosta de uma senhora, e é mulher, uma tal Diana Soller, talvez por ter o meu nome, mas como as mulheres não pensam, diz que é o marido que a ensina.
Na próxima composição, esta já vai longa, vou contar outras coisas do meu pai, e tenho de perguntar à minha mãe se as posso dizer aqui na escola da Musgueira.
Diana – 12 anos – Escola C+S da Musgueira.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
Como se dá a cooptação da Juventude Periférica pela Direita? @MagaMarcela1
A 2 anos da tentativa de golpe… Num contexto de um Brasil marcado pela desigualdade, o fortalecimento de uma juventude periférica alinhada à direita é um reflexo direto de um projeto hegemônico que se renova nas bordas da sociedade. Como isso tem se dado?
2) É um fenômeno que se assenta, sobretudo, em 04 pilares fundamentais: guerra ideológica, captura cultural pelo discurso meritocrático, precarização da consciência de classe e clerofascismo.
3) A direita, sobretudo em suas versões ultraconservadoras, entende que a periferia não é só um território que fornece “mão de obra barata”, mas um espaço disputado simbolicamente.
4) A narrativa do “empreendedorismo de sobrevivência”, do “cidadão de bem” e da criminalização das lutas populares cria o mito de uma ascensão individual possível, enquanto, na prática, reforça uma subserviência estrutural.
5) O discurso da direita na periferia veste a máscara da ideia de que “qualquer um pode vencer com esforço, amplificada nas redes sociais e nos espaços religiosos. EÉ a falácia do discurso Meritocrático e “do Empoderamento Individual”.
6) Com isso, jovens que vivem na precariedade passam a se ver não como sujeitos coletivos, mas como “empresários de si mesmos”, fortalecendo a “atomização”, o isolamento social e enfraquecendo movimentos de base.
7) A juventude periférica é bombardeada por conteúdos que misturam moralismo, fake news e medo. E isso é um arsenal ideológico que acaba legitimando políticas que mantêm a precariedade como regra.
8) A ausência de políticas públicas no geral e educacionais críticas, de espaços facilitados de construção comunitária faz com que parte dessa juventude seja absorvida pelo discurso punitivista e anti-esquerda, regado por alianças com milícias e também setores da segurança pública.
9) Ou seja, a juventude periférica de direita é o resultado de um projeto de poder que se infiltra onde o Estado e as lutas progressistas não chegam com a devida força ou sem força nenhuma.
10) Não há como entender o fortalecimento da juventude periférica de direita sem denunciar a participação de setores religiosos na propagação de um discurso clerofascista: uma aliança nefasta entre o autoritarismo político e o fundamentalismo religioso.
11) Este movimento, que ocupa os territórios populares sob o disfarce da fé e da caridade, é um dos principais braços da ofensiva ideológica da direita.
12) Algumas igrejas, ou melhor, setores conservadores e neopentecostais, atuam como um “Estado paralelo”, oferecendo serviços básicos onde o Estado é ausente, enquanto reforça uma narrativa moralizante e anticomunista.
13) Prometem salvação individual em troca de obediência ao projeto neoliberal e criminalizam qualquer forma de organização coletiva como “coisa de baderneiro” ou “trabalho do diabo”.
14) Por trás dos sermões sobre “prosperidade”, esconde-se um pacto silencioso com a lógica da exploração capitalista: quem é pobre, dizem, é porque “não teve fé o suficiente”. Assim, “despolitizam” a pobreza, transformando numa suposta falha moral.
15) A juventude periférica é alimentada com um discurso apocalíptico em que o “inimigo” está sempre lá fora: os movimentos sociais são vistos como “agentes do caos”, as pautas de DH como uma “ameaça à família” e os intelectuais críticos como “propagadores do marxismo cultural”. Isso tudo alimentado por líderes religiosos que ocupam o púlpito como verdadeiros generais de guerra cultural.
16) A luta contra o clerofascismo não é uma negação da espiritualidade, mas a reinvenção dela como um espaço de emancipação, não de opressão. (Opressão, inclusive, racista de perseguição à cultura afro, por ex.)
17) E, aliás, é bom lembrar que o clerofascismo é um dos pilares mais poderosos do projeto de direita nas periferias, pois manipula o imaginário popular e, sobretudo, controla corpos e mentes com a promessa de redenção e medo da condenação.
Marcela Magalhães
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Atos de ignorância e intransigência cognitiva, por Major-General Carlos Branco, 02/01/2025
Antecipando uma possível interrupção nos combates que se travam em território ucraniano, após a tomada de posse de Donald Trump, tem vindo a germinar na comunicação social do velho continente a irrealista, inútil e perigosa ideia de colocar forças de manutenção de paz em território ucraniano para monitorizar o cumprimento de um eventual cessar-fogo entre forças russas e ucranianas. A sua apresentação tem-se revestido de algumas variantes, mas todas elas incorporando a premissa de que com Trump na presidência e Washington a preparar-se para abandonar o barco, serão os europeus quem carregará com o fardo do apoio à Ucrânia.
Caso estivéssemos distraídos, o candidato a chanceler alemão Friedriech Merz lembrou-nos que o envio de forças de manutenção da paz europeias para a Ucrânia deve ser coordenado com a Rússia, como se fosse possível ser de outra maneira.
O que fará a próxima Administração americana relativamente à Ucrânia tem sido objeto de abundante especulação. Há soluções para todos os gostos. Se Kiev não estiver disponível para se sentar à mesa das negociações, Trump cessará o apoio à Ucrânia, mas se a indisponibilidade for da parte russa, então o apoio a Kiev continuará incessantemente enquanto for necessário.