terça-feira, 31 de dezembro de 2024
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
O Grande Israel e o Mashiach vitorioso
Uma mudança fundamental está a ocorrer em todo o mundo na imagem de Israel e, talvez também, entre os próprios judeus. Os judeus da Europa despertaram sentimentos de piedade, simpatia e compaixão após a catástrofe que experimentaram sob Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Foi isto que tornou possível a criação do Estado de Israel.
O Holocausto ou shoah, isto é, os horrores e as perseguições sofridas pelos judeus, tornou-se a base do acordo unânime: depois de tanto sofrimento, os judeus simplesmente tinham o direito de criar o seu próprio Estado. Este tornou-se o capital moral dos judeus e definiu uma atitude sagrada em relação ao Holocausto.
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
sábado, 21 de dezembro de 2024
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
Marcela Magalhães: Os imigrantes e refugiados são o ponto de corte de nossa era
Os imigrantes e refugiados são o ponto de corte de nossa era, a linha que atravessa o nosso momento histórico e nos interpela em todas as direções.
2) Se estudarmos o crescimento da ext-direita, vemos que a migração é central na narrativa de ódio deles. Se falamos em colonialismo e neocolonialismo, vê-se que as mesmas estruturas que exploraram e pilharam territórios no passado são as que, hoje, expulsam pessoas de suas terras e as empurram pro desterro.
3) Se a discussão gira em torno da crise de natalidade ou da previdência social, os imigrantes, em vez de serem vistos como parte da solução como o são, são apontados como culpados.
4) Precisa-se cuidar a geração que envelhece, mas ignora-se a centralidade do trabalho de cuidado e de reprodução social, desempenhado principalmente por mulheres migrantes, uma realidade que dialoga diretamente com a atenção do feminismo marxista.
5) Se falamos de uberização do trabalho na Europa, ou de avanço do tecnofeudalismo, ou de neoliberalismo e suas formas mais extremas, ou de ultraliberalismo - não “importa” muito o nome - as novas e velhas fases do sistema continuam a precarizar, dividir e espoliar os trabalhadores imigrantes.
6) Somemos a isso a crise ambiental, que já força deslocamentos em massa, tornando o exílio um fenômeno global. São os primeiros a sentir os efeitos do colapso climático e, ao migrarem, são recebidos com o discurso de que “não há recursos pra todos”.
7) Nos bairros periféricos, onde o abandono do Estado é evidente, a violência policial cai de forma desproporcional sobre corpos racializados e marginalizados de imigrantes. O sistema identifica essas vidas como descartáveis e insiste em empurrá-las pra invisibilidade, exceto quando morrem. Aí são instrumentalizados por populistas.
8) E ainda assim, como perguntei uma vez a Jodi Dean, parece que em muitos países ainda estamos presos à primeira fase das lutas identitárias: um cenário onde grupos de pessoas racializadas continuam lutando contra o Estado por uma igualdade de direitos, mesmo que, na prática, essa igualdade permaneça apenas no papel, tal qual como vimos nas lutas pela abolição da escravatura, onde a “liberdade” não significou justiça material.
9) Não de justiça material talvez, mas o fato é que a regularização de situações e permissões de residência é um ponto inicial. Imprescindível pra dignidade.
10) E, quando um imigrante se move, ele carrega o peso do mundo nas costas e ainda é tratado como culpado. Culpado por “inflacionar o mercado imobiliário”, culpado pela crise social, culpado pela pobreza que ele mesmo NÃO criou.
11) Vale lembrar que a imigração é a face mais visível de uma crise estrutural, onde o capital se move sem fronteiras, mas os seres humanos são barrados, criminalizados e desumanizados.
12) Mas, no capitalismo, o imigrante não é um cliente comum? Ele paga o aluguel mais caro, consome, trabalha e ainda assim é tratado como uma anomalia no mercado, como se o seu simples existir fosse uma ameaça. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis pela especulação (fundos de investimento, especuladores imobiliários e elites financeiras) seguem intocados e lucrando.
13) A ideia de integração, que nos vendem como solução, é igualmente cruel. Não é apenas uma adaptação: é uma fagocitose, um processo de apagamento do passado, da origem, da cultura.
14) Pro imigrante, a integração tem uma exigência perversa: ele precisa provar o seu valor. Tem que ser o “bom imigrante”, aquele que aprende a língua rapidamente, que assimila a cultura local e que, acima de tudo, não incomoda.
15) É a meritocracia do migrante, uma lógica absurda que exige do imigrante um esforço triplo para ser aceito e, ainda assim, ele talvez jamais será suficiente. Porque o problema não é ele: o problema é o sistema que constrói muros invisíveis, alimenta preconceito e nega direitos básicos.
16) A verdade que temos é um sistema que lucra com o imigrante (mas que o despreza), que exige sua integração, mas nunca o aceita por completo. Que culpa o pobre pela pobreza e o exilado pela destruição ambiental, mas não vê que a vinda deles é consequência e não causa de um colapso. O problema não é o imigrante.
17) o Imigrante é sempre um bode expiatório. Ele paga o preço mais alto, seja pelo mercado imobiliário, pelo colapso climático ou pelas crises sociais. É ele que trabalha nos empregos mais precarizados, que sustenta as economias locais, que rejuvenesce a força de trabalho. Mas, em vez de ser reconhecido, ele é vilanizado.
domingo, 15 de dezembro de 2024
sábado, 14 de dezembro de 2024
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
sábado, 7 de dezembro de 2024
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
domingo, 1 de dezembro de 2024
sábado, 30 de novembro de 2024
Manifesto portugal
Somos um país feudal, racista, machista, fascista e colonialista.
Apoiamos o genocídio na Palestina e no Líbano, barcos com carregamentos de armas têm porto seguro
em Portugal, o nosso governo apoia Israel, a união europeia apoia Israel. Somos cúmplices de homicídio em massa do povo palestino.
Quando Netanyahu tiver a morte que merece, Portugal fará 3 dias de luto, como fez a Adolf Hitler.
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
A ESCRITA DO DEUS, por Jorge Luís Borges
O cárcere é profundo e de pedra; sua forma, a de um hemisfério quase perfeito,
embora o piso (também de pedra) seja algo menor que um círculo máximo, fato que de
algum modo agrava os sentimentos de opressão e de grandeza. Um muro corta-o pelo
meio; este, apesar de altíssimo, não toca a parte superior da abóbada; de um lado estou eu,
Tzinacan, mago da pirâmide de Qaholom, que Pedro de Alvarado incendiou; do outro há
um jaguar, que mede com secretos passos iguais o tempo e o espaço do cativeiro. Ao nível
do chão, uma ampla janela com barrotes corta o muro central. Na hora sem sombra [o
meio-dia], abre-se um alçapão no alto e um carcereiro que foram apagando os anos
manobra uma roldana de ferro e nos baixa, na ponta de um cordel, cântaros com água e
pedaços de carne. A luz entra na abóbada; nesse instante posso ver o jaguar.
Perdi o número dos anos que estou na treva; eu, que uma vez fui jovem e podia
caminhar por esta prisão, não faço outra coisa senão aguardar, na postura de minha morte,
o fim que me destinam os deuses. Com a profunda faca de pedernal abri o peito das
vítimas e agora não poderia, sem magia, levantar-me do pó.
Na véspera do incêndio da Pirâmide, os homens que desceram de altos cavalos me
castigaram com metais ardentes para que revelasse o lugar de um tesouro escondido.
Abateram, diante de meus olhos, o ídolo do deus, mas este não me abandonou e me
mantive silencioso entre os tormentos. Laceraram-me, quebraram-me, deformaram-me e
depois acordei neste cárcere, que não mais deixarei em minha vida mortal.
Premido pela fatalidade de fazer algo, de povoar de algum modo o tempo, quis
recordar, em minha sombra, tudo o que sabia. Noites inteiras desperdicei em recordar a
ordem e o número de algumas serpentes de pedra ou a forma de uma árvore medicinal.
Assim fui debelando os anos, assim fui entrando na posse do que já era meu. Uma noite,
senti que me aproximava de uma lembrança precisa; antes de ver o mar, o viajante sente
uma agitação no sangue. Horas depois, comecei a avistar a lembrança; era uma das
tradições do deus. Este, prevendo que no fim dos tempos ocorreriam muitas desventuras e
ruínas, escreveu no primeiro dia da Criação uma sentença mágica, capaz de conjurar esses
males. Escreveu-a de maneira que chegasse às mais distantes gerações e que não a tocasse
o azar. Ninguém sabe em que ponto a escreveu nem com que caracteres, mas consta-nos
que perdura, secreta, e que a lerá um eleito.
Considerei que estávamos, como sempre, no
fim dos tempos e que meu destino de último sacerdote do deus me daria acesso ao
privilégio de intuir essa escrita. O fato de que me rodeasse uma prisão não me vedava essa
esperança; talvez eu tivesse visto milhares de vezes a inscrição de Qaholom e só me
faltasse entendê-la.
Essa reflexão me animou e logo me infundiu uma espécie de vertigem. No âmbito
da terra existem formas antigas, formas incorruptíveis e eternas; qualquer uma delas podia
ser o símbolo procurado. Uma montanha podia ser a palavra do deus, ou um rio ou o
império ou a configuração dos astros. Mas no curso dos séculos as montanhas se aplainam
e o caminho de um rio costuma desviar-se e os impérios conhecem mutações e estragos e a
figura dos astros varia. No firmamento há mudança. A montanha e a estrela são indivíduos
e os indivíduos caducam. Procurei algo mais tenaz, mais invulnerável. Pensei nas gerações
dos cereais, dos pastos, dos pássaros, dos homens. Talvez em minha face estivesse escrita
a magia, talvez eu mesmo fosse o fim de minha procura. Estava nesse afã quando recordei
que o jaguar era um dos atributos do deus.
Então minha alma se encheu de piedade. Imaginei a primeira manhã do tempo,
imaginei meu deus confiando a mensagem à pele viva dos jaguares, que se amariam e se
gerariam eternamente, em cavernas, em canaviais, em ilhas, para que os últimos homens a
recebessem. Imaginei essa rede de tigres, esse quente labirinto de tigres, causando horror
aos prados e aos rebanhos para conservar um desenho. Na outra cela havia um jaguar; em
sua proximidade percebi uma confirmação de minha conjetura e um secreto favor.
Dediquei longos anos a aprender a ordem e a configuração das manchas. Cada cega
jornada me concedia um instante de luz, e assim pude fixar na mente as negras formas que
riscavam a pelagem amarela. Algumas incluíam pontos; outras formavam raias
transversais na face interior das pernas; outras, anulares, se repetiam. Talvez fossem um
mesmo som ou uma mesma palavra. Muitas tinham bordas vermelhas.
Não falarei das fadigas de meu labor. Mais de uma vez gritei à abóbada que era
impossível decifrar aquele texto. Gradualmente, o enigma concreto que me atarefava me
inquietou menos que o enigma genérico de uma sentença escrita por um deus. Que tipo de
sentença (perguntei-me) construirá uma mente absoluta? Considerei que mesmo nas
linguagens humanas não existe proposição que não implique o universo inteiro; dizer o
tigre é dizer os tigres que o geraram, os cervos e tartarugas que ele devorou, o pasto de que
se alimentaram os cervos, a terra que foi mãe do pasto, o céu que deu luz à terra.
Considerei que na linguagem de um deus toda palavra enunciaria essa infinita
concatenação dos fatos, e não de um modo implícito, mas explícito, e não de um modo
progressivo, mas imediato. Com o tempo, a noção de uma sentença divina pareceu-me
pueril ou blasfematória. Um deus, refleti, só deve dizer uma palavra e nessa palavra a
plenitude. Nenhuma palavra articulada por ele pode ser inferior ao universo ou menos que
a soma do tempo. Sombras ou simulacros dessa palavra, que equivale a uma linguagem e a
quanto pode compreender uma linguagem, são as ambiciosas e pobres palavras humanas,
tudo, mundo, universo.
Um dia ou uma noite – entre meus dias e minhas noites que diferença existe? –
sonhei que no chão do cárcere havia um grão de areia. Voltei a dormir, indiferente; sonhei
que despertava e que havia dois grãos de areia. Voltei a dormir; sonhei que os grãos de
areia eram três. Foram, assim, multiplicando-se até encher o cárcere e eu morria sob esse
hemisfério de areia. Compreendi que estava sonhando; com enorme esforço, despertei. O
despertar foi inútil; a inumerável areia me sufocava. Alguém me disse: "Não despertaste
para a vigília, mas para um sonho anterior. Esse sonho está dentro de outro, e assim até o
infinito, que é o número dos grãos de areia. O caminho que terás de desandar é
interminável e morrerás antes de haver despertado realmente".
Senti-me perdido. A areia me enchia a boca, mas gritei: "Nenhuma areia sonhada
pode matar-me, nem existem sonhos dentro de sonhos". Um resplendor me despertou. Na
treva superior desenhava-se um círculo de luz. Vi a face e as mãos do carcereiro, a
roldana, o cordel, a carne e os cântaros.
Um homem se confunde, gradualmente, com a forma de seu destino; um homem é,
afinal, suas circunstâncias. Mais que um decifrador ou um vingador, mais que um
sacerdote do deus, eu era um encarcerado. Do incansável labirinto de sonhos regressei,
como à minha casa, à dura prisão. Bendisse sua umidade, bendisse seu tigre, bendisse a
fresta de luz, bendisse meu velho corpo dolorido, bendisse a treva e a pedra.
Então ocorreu o que não posso esquecer nem comunicar. Ocorreu a união com a
divindade, com o universo (não sei se estas palavras diferem). O êxtase não repete seus
símbolos; há quem tenha visto Deus num resplendor, há quem o tenha percebido numa
espada ou nos círculos de uma rosa. Eu vi uma Roda altíssima, que não estava diante de
meus olhos, nem atrás, nem nos lados, mas em todas as partes, a um só tempo. Essa Roda
estava feita de água, mas também de fogo, e era (embora se visse a borda) infinita.
Entretecidas, formavam-na todas as coisas que serão, que são e que foram, e eu era um fio
dessa trama total, e Pedro de Alvarado, que me atormentou, era outro. Ali estavam as
causas e os efeitos e me bastava ver essa Roda para entender tudo, interminavelmente. Oh,
felicidade de entender, maior que a de imaginar ou que a de sentir! Vi o universo e vi os
íntimos desígnios do universo. Vi as origens que narra o Livro do Comum. Vi as
montanhas que surgiram da água, vi os primeiros homens feitos de pau, vi as tinalhas que
se voltaram contra os homens, vi os cães que lhes destroçaram os rostos. Vi o deus sem
face que há por trás dos deuses. Vi infinitos processos que formavam uma só felicidade e,
entendendo tudo, consegui também entender a escrita do tigre.
É uma fórmula de catorze palavras casuais (que parecem casuais) e me bastaria
dizê-la em voz alta para ser Todo-Poderoso. Bastaria dizê-la para abolir este cárcere de
pedra, para que o dia entrasse em minha noite, para ser jovem, para ser imortal, para que o
tigre destroçasse Alvarado, para afundar o santo punhal em peitos espanhóis, para
reconstruir a pirâmide, para reconstruir o império. Quarenta sílabas, catorze palavras, e eu,
Tzinacan, regeria as terras que Montezuma regeu. Mas eu sei que nunca direi essas
palavras, porque não me lembro de Tzinacan.
Que morra comigo o mistério que está escrito nos tigres. Quem entreviu o universo,
quem entreviu os ardentes desígnios do universo não pode pensar num homem, em suas
triviais venturas ou desventuras, mesmo que esse homem seja ele. Esse homem foi ele e
agora não lhe importa. Que lhe importa a sorte daquele outro, que lhe importa a nação
daquele outro, se ele agora é ninguém. Por isso não pronuncio a fórmula, por isso deixo
que os dias me esqueçam, deitado na escuridão.
Para Ema Risso Platero.
terça-feira, 26 de novembro de 2024
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
domingo, 24 de novembro de 2024
sábado, 23 de novembro de 2024
Auto-imolação na Prisão Estatal de Red Onion
Caros amigos,
No dia 15 de setembro de 2024, um acontecimento trágico e horrível teve lugar na Prisão Estatal de Red Onion, na Virgínia - um acontecimento que põe em evidência as condições insuportáveis que os indivíduos encarcerados enfrentam todos os dias. Num ensaio radiofónico recente, Kevin Rashid Johnson relata que Econ e o seu companheiro de cela Trayvon Brown se incendiaram, na esperança de escapar ao racismo intolerável, aos abusos e às condições desumanas a que estavam sujeitos. Econ sofreu queimaduras de terceiro grau; os ferimentos do seu companheiro de cela foram ainda piores.
Não se trata de actos isolados. Num espaço de apenas duas semanas, uma dúzia de homens negros da Red Onion tomaram as mesmas medidas desesperadas, incendiando-se a si próprios. Não se trata de actos de protesto. São seres humanos levados a extremos, simplesmente na esperança de obter alívio para o seu tormento.
Kevin Rashid Johnson, um ativista revolucionário encarcerado em Red Onion, relatou estes incidentes horríveis, expondo a crueldade extrema e a falta de esperança que definem a vida dentro da prisão. Rashid não é alheio às injustiças do sistema. Nascido a 3 de outubro de 1971, em Richmond, Virgínia, Kevin “Rashid” Johnson é membro fundador do Partido dos Novos Panteras Negras Afrikan e, mais tarde, do Partido Revolucionário Intercomunitário dos Panteras Negras. Passou décadas a lutar pelos direitos dos indivíduos encarcerados, ao mesmo tempo que passava a vida atrás das grades, depois de ter sido condenado por homicídio em 1990 - um crime que afirma não ter cometido.
A Prison Radio é a plataforma que torna possível que a voz de Rashid - e as vozes de inúmeros outros presos no sistema prisional americano - seja ouvida. Sem o seu apoio, histórias como as de Rashid e Econ permaneceriam enterradas atrás da cortina de ferro da prisão. Na Prison Radio, gravamos e distribuímos testemunhos de indivíduos encarcerados para expor as condições desumanas e exigir responsabilidades. A vossa escuta ativa, a vossa ação de protesto contra estas condições e o vosso apoio ao nosso trabalho permitem-nos manter estas linhas de comunicação abertas.
Em solidariedade,
Tommy Phan
Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
terça-feira, 19 de novembro de 2024
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
sábado, 16 de novembro de 2024
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
sábado, 9 de novembro de 2024
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
terça-feira, 5 de novembro de 2024
sábado, 2 de novembro de 2024
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
“Nenhuma propaganda na Terra pode esconder a ferida que é a Palestina" – Arundhathi Roy
sábado, 26 de outubro de 2024
Violência policial e racismo estrutural, por Marcela Magalhães
A violência policial contra corpos racializados não é um acidente, não é um “desvio de conduta”, tampouco é só uma questão de “falta de treinamento”. Vamos deixar bem claro: trata-se de uma lógica assassina que opera em função de um sistema insaciável e racista, que se alimenta do sangue dos pobres e dos negros pra se manter intacto. Só nesta semana a polícia matou pessoas negras em Portugal, Brasil e Itália.
No Brasil, a polícia invade favelas como um exército, executando jovens negros com uma violência cínica, impune, que grita aos quatro ventos: suas vidas não importam. Em Portugal, o racismo estrutural se revela em cada batida, em cada abordagem violenta contra imigrantes africanos, mostrando que a herança colonial está viva, operando nas sombras, mascarada como “cuidado com a ordem pública”.
E na Itália, vemos a mesma lógica hedionda: migrantes do Norte da África são tratados como pestes a serem controladas, eliminadas, tudo em nome de uma “segurança nacional” que é nada menos que a máscara xenófoba do terror de Estado.
Não é um problema de “alguns maus policiais” – essa é a desculpa do opressor pra fugir da verdade. A questão aqui é estrutural. A polícia é treinada pra defender o capitalismo. E o capitalismo define quem vive e quem morre. Aqueles que não se encaixam nos moldes brancos, ricos, "nacionais" e conformados são alvos a serem neutralizados. Por isso, essa repressão se espalha e se replica globalmente.
Cada batida policial nas periferias brasileiras, cada ataque racista em Portugal e cada brutalidade em território europeu contra migrantes são atos de uma violência internacional e planejada que serve ao mesmo objetivo: manter os oprimidos sob o jugo do medo, da vigilância e da morte.
O que estamos vendo é um padrão que transcende fronteiras e idiomas, uma lógica de controle estatal que, por trás de cada disparo, abuso e batida policial, esconde a premissa de que certos grupos – racializados, empobrecidos, estrangeiros – são descartáveis. Eles representam o "outro" ameaçador, que deve ser vigiado, contido e, se necessário, eliminado.
O capitalismo global constrói esse "outro" como uma ameaça pra justificar a militarização das polícias, o endurecimento das políticas de segurança e, sobretudo, o uso do medo pra manter o controle. Essa violência brutal e sistemática contra pessoas racializadas não é, e nunca foi, meramente um "problema de conduta individual".
Não se trata de "maçãs podres" dentro das forças policiais. Esses são eufemismos deliberados, desenhados pra desviar a atenção das raízes do problema e nos fazer esquecer que a repressão é, de fato, uma função essencial da polícia num sistema capitalista.
Também a desavergonhada invasão de velórios por policiais, nesta mesma semana, tanto no Brasil e quanto em Portugal – dos mesmos agentes que derramaram o sangue das vítimas negras que agora os familiares tentam honrar – ultrapassa qualquer limite de violência imaginável. Não se contentam em tirar a vida, mas em macular a morte e tentar apagar a memória.
No Brasil, onde a polícia já age como um exército opressor nas periferias, com "licença implícita" pra matar jovens negros e pobres, a invasão de velórios expõe o desprezo mais profundo pela dignidade humana. Não basta pro aparato do Estado esmagar esses corpos. Ele precisa também invadir o espaço do último adeus, transformando o luto numa cena de novo terror, assombrando as famílias que já foram mutiladas por suas ações.
Da mesma forma, em Portugal, vemos o mesmo "modus operandi": a polícia, a mesma que assassinou Odair, entra no velório, o espaço de luto, pra atormentar ainda mais os enlutados, como se dissesse "nem na morte vocês terão sossego".
Essas invasões são mensagens sádicas, enviadas pelo Estado a todos que ousam existir à margem do privilégio racial e econômico: "Seus corpos não nos importam, suas vidas não nos importam, e sua dor, muito menos".
Trata-se de um show de força, uma afirmação cruel de poder sobre comunidades negras e racializadas, que sublinha a realidade de que, pro capitalismo racial e seu braço armado, essas vidas são consideradas descartáveis, substituíveis, sujeitas ao desprezo contínuo até mesmo na morte.
Amanhã, manifestações estão convocadas na Itália e em Portugal, não só pra honrar a memória dos que foram assassinados, mas pra lembrar ao Estado e ao mundo que essas vidas são inapagáveis.
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
terça-feira, 22 de outubro de 2024
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
domingo, 20 de outubro de 2024
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
sábado, 12 de outubro de 2024
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
domingo, 29 de setembro de 2024
sábado, 28 de setembro de 2024
Em Beirute Sarin @Sarin_nlnl
Em Beirute
nem o Sol nasce Em Beirute como merece E é mais quente que o ar do deserto É mais fundo que um buraco aberto Na memória de uma terra ainda morna que já não torna a ser Beirute.